nós somos as obras e sobras do amor.
suas segundas intenções ardem em nós,
acendendo
a matéria mesma de que estamos desfeitos:
solidão e desejo.
cambaleantes,
como devem os amantes,
abandonamos os nossos corpos
como deixamos este quarto
- amor, pegou as chaves do carro?
em um mundo tal o desconhecemos
uma paisagem faz demonstrações de escapismo
diante da inexpressiva desatenção de um vidro.
nele reflito sobre este momento
que se olha na pele de uma lagoa
onde se banham
as imagens de todas as coisas
paradas ou moventes
- tanto os que viveram em pecado
quantos os que morreram com rigor
flutuam afogados neste imenso
céu interior:
a água
o caminho sem odor
que nos caminha entre os dedos.
eu o tento capturar mas,
tão esquivo quanto a sua sombra,
este momento
nunca afunda suficientemente lento,
se dissipando rápido como seu reflexo quebrado.
cedo ou tarde, alguém me consola,
nós o perderíamos por inteiro,
nas errâncias da memória,
sobre um banco público em diversos lugar e tempo,
como os casuais efeitos secundários
de uma eternidade à qual
nossas almas não querem aspirar.
a viagem seguirá
jornada adentro
de nenhum olhar.
mas nada custa tentar,
e agora, rodando ao longo dos rastros
de um muro de contenção,
não somos outra coisa senão
as alucinações de um lago.
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