Apartamento, dois quartos apertados, setecentos
e cinqüenta reais por mês, fora o condomínio, e mil
razões para perder o juízo: miudezas de bricolagem,
arranjar fogão e fiador, mudança em duas viagens.
Jardim América, Pinheiros. 10 minutos de caminhada
para o metrô, não seriam nada, não fossem seis quadras
de descida e subida, e cocô de cachorro na volta e na ida.
Um ponto de táxi colado, uma padaria na esquina.
Disseram que em nenhum lugar seria feliz como em Campinas,
mas para ser pleno talvez não bastam dias de sol e casas com piscina.
Estatisticamente mais seqüestros que assaltos à mão armada.
E eu meio louco mas todo endividado, já previno que não trago nada.
São Paulo, 12 milhões de habitantes e nenhum amor para mim.
Nas cadeiras da Paulista eu espero o trem, a bebedeira chegar.
E quem resiste ao rebite de dois pastel com um chopps?
É tarde, tem a velha, moro longe. Então tá, espera um táxi passar.
Os olhos de vidro da cidade me acendem o caminho
quando é noite ou quase dia, mas já há a demora cubana
da fila indiana de carros, e um oceano de gente
feito ondas que vão e que vêm sem um mar.
Embrutecido num trânsito pânico, me desperta a garoa,
ou se fico cinza de tanto cimento, São Paulo me atordoa
com um torpor de lança-perfume de fumo e gasolina,
e com confetti de lixo picado São Paulo me serpentina.
Para mim será sempre a mais bonita,
não importa quão desalinhada ou ríspida.
Recebe esta carta de amor, ó feia e dura flor,
hoje São Paulo é o meu amor.
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