Perdoar é uma espécie
parasítica da desídia.
É distração da vontade,
é um esquecer por querer.
É quando caímos e nos rodeiam,
e com um sorriso contestamos,
pois, se doeu, não dói mais
o lanho que na pele não fecha nunca.
Perdoar é silêncio articulado aquém da fala,
é nó que não desata mas acostuma,
e deslembrados de lembrar o omitimos
da curiosidade doentia dos formulários clínicos.
Perdoar é o viço da primavera que revestimos,
morte e sombra nos temperaram, mas resistimos,
pois estamos sempre ressurgindo
como as estações e os domingos.
Porque pesadas de remorso as pedras não cantam,
e o acaso premeditado já não despede signos,
lavo-me do pó daquele homem antigo
pra renascer, inocente como um menino.
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